A primeira entrevista com o autor de 2012 traz as palavras de Vicente Reckziegel, gaúcho de Estrela, autor do suspense O casarão.
1. Quem é Vicente Reckziegel?
Sou um pobre (literalmente) rapaz estrelense, nascido e ainda morador da cidade. Sou funcionário público (sim, eu trabalho, não apenas um casaco na cadeira) na própria cidade, na Secretara de Cultura e Turismo, o que casa perfeitamente comigo, afinal sou formado em Turismo pela UNISC e a cultura faz parte da minha vida. Amante da boa música, cinema e literatura.
2. A ideia de se tornar um autor surgiu de onde? Quais as suas influências?
Sempre gostei de escrever, desde a infância adorava as aulas de redação, e como sempre fui de ler tudo que podia, esse gosto foi se aprimorando com o passar do tempo. Mas nunca escrevi pensando em publicar, apenas para uma própria satisfação, até um dia resolver “arriscar” e enviar para algumas editoras, e deu certo. Além do livro O Casarão, tenho participação em cinco antologias pelo país, o que traz uma bagagem legal para continuar nesse caminho. Meus autores preferidos são Stephen King e Edgar Allan Poe.
3. Seu livro O CASARÃO trata de uma história fantástica envolvendo um grupo de amigos que, por curiosidade típica dos jovens, tem suas vidas mudadas drasticamente. Essa história tem alguma base real?
Eu diria que 5% da história é baseada em alguns fatos reais, como as localidades e um ou outro diálogo, mas basicamente tudo é ficção.
4. O trauma sofrido pelos personagens foi muito forte devido aos acontecimentos ocorridos no casarão. Em sua opinião, o que fatos como esse causariam nas pessoas caso tivessem o mesmo tipo de experiência na vida real?
É difícil prever algo assim, pois cada pessoa possui um tipo de personalidade, sendo alguns muito mais suscetíveis a eventos traumáticos. Mas creio que a reação seria como dos personagens no próprio livro, sendo uma lembrança viva por toda a existência. Ninguém poderia sair impune de um acontecimento dessa intensidade.
5. Como lidar com esse trauma? Você considera possível superar esse tipo de problema?
De certa forma, todos possuímos algum tipo de trauma, de vários níveis de intensidade, e temos de aprender a viver com eles ou a superá-los. Nunca é uma tarefa fácil, mas a vida também é uma batalha diária. Ou desistimos ou continuamos em frente.
6. Você acredita que, na vida real, aconteça o mesmo que aconteceu no livro, com relação a determinadas coisas que algumas pessoas visualizam e outras não? Por que só algumas pessoas enxergavam o casarão? Isso é uma questão psicológica?
Obviamente que algumas pessoas são mais suscetíveis ou sugestionáveis, podendo ser levadas a acreditar ou ver coisas que outros não enxergam. Por outro lado, isso é algo que eu acredito, apesar de ser complicado achar alguma explicação plausível para o fato. Acredito em haver poderes superiores, mas não no estilo “Deus e Diabo”, “bem e mal”, “paraíso ou inferno”. Sendo poderes superiores, ficam além desse tipo de nomenclatura. Plagiando Shakespeare “Há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe nossa vã filosofia”.
7. Algum personagem dessa obra foi inspirado em alguém?
Conscientemente não, apesar de que alguns conhecidos acharem que estava falando desse ou daquele. Todos são personagens fictícios, com personalidade idem. Mas de certa forma, todos temos amigos ou conhecidos com atitudes e maneiras parecidas com as descritas no livro.
8. Tem alguma nova obra em andamento? Caso sim, adiante-nos o que vem por aí.
Estou escrevendo um novo livro, que pretendo lançar mais para o final deste ano. Já tenho 60 páginas escritas, e as ideias estão fluindo de maneira adequada, então posso dizer que estou curtindo muito escrever. Infelizmente o tempo é curto, mas sempre que dá estou criando algo. Também será um suspense, que considero um avanço em comparação ao primeiro (mas isso todo mundo acha), muito na linha S. King, mas uma história original que terá um final surpreendente. É difícil, nesse momento, dar maiores detalhes sobre a história, posso adiantar que é bem mais “cruel” que O Casarão. Mas tenho certeza, quem curte suspense irá gostar.
9. Você é um amante do rock n' roll, inclusive postando suas opiniões em um site pessoal. Como você vê o gênero atualmente? Por que não há mais ícones novos surgindo?
Não acho que não há mais novos ícones, por que, se pensar, quem são os grandes ícones do Rock? John Lennon, Jimi Hendrix, Jim Morrison, Kurt Cobain? Todos estes tem algo em comum, morreram jovens e no auge da criação. O que mudou foi o modo de ver a música. Quase todo mundo hoje em dia consegue gravar um disco, o que faz que tenha muita coisa sem qualquer qualidade circulando, o que tira um pouco a credibilidade de determinados estilos musicais. O que ocorre hoje é que não se tem mais a idolatria de antigamente, o que às vezes alçava a gênios musicais pessoas sem gabarito para o mesmo. Tudo depende da maneira que se quer ver a cena musical, pois eu ouço muita coisa boa lançada nos últimos anos.
10. As bandas mainstream do rock atual estão muito voltadas ao pop. Leia-se Kings of Leon, Radiohead e tantas outras, principalmente da Grã-Bretanha. Quem curte algo mais pesado precisa praticamente se isolar, pois na mídia praticamente nada é visto. Você considera essa ligação do rock com o pop uma coisa natural da época em que vivemos?
Essa ligação sempre existiu de certa forma, pois o próprio rock quando explodiu de vez no mundo com os Beatles, tinha um acento pop forte, que sempre acompanhou grande parte das bandas com o passar do tempo. O problema é quando isso é feito exclusivamente com o objetivo de vender mais e tornar-se mais popular, mudando consideravelmente o estilo de som antes tocado. Mas normalmente quando uma banda muda radicalmente seu som, perde grande parcela de seus fãs mais antigos, e nem sempre consegue novos admiradores. Eu prefiro bandas que se mantém fieis ao seu objetivo de música inicial.
11. Jogo rápido do rock n' roll: mostre suas preferências:
A – Banda(s): Iron Maiden, Rush, The Beatles, Dream Theater, Led Zeppelin
B – Subgênero(s): todos os gêneros de Metal e Rock, exceto os alternativos
C – Álbum(ns): Made In Japan (Deep Purple), Powerslave (Iron), Revolver (The Beatles) D – Vocalista: Dio/Bruce Dickinson
E – Guitarrista: Jimmy Page (Led Zeppelin)
F – Baixista: Steve Harris (Iron Maiden)
G – Baterista: Neil Peart (Rush)
H – Música inesquecível: Tenho em torno de 3565632 músicas inesquecíveis, então vou escolher uma incomum: The Rain Song (Led Zeppelin)
I – Banda extinta ou artista falecido que você gostaria de ressuscitar: The Beatles
12. Pra finalizar, uma mensagem aos leitores do blog.
Gostaria de fazer apenas um simples pedido: prestigiem a literatura nacional, mas não simplesmente com palavras, mas sim ações concretas. Já ouvi muita gente declarar que apoia os nossos autores, mas na hora de comprar voltam com uma sacola cheia de livros estrangeiros, enquanto esperam receber em casa de graça um livro onde só quem escreve sabe que se sua sangue para lançar, sem patrocínio, sem mídia e afins. Sem generalizar, obviamente, mas é fácil ter um site onde se diz “apoio total a literatura nacional” e abaixo a lista de livros adquiridos: “Crepúsculo, Harry Potter, algum do Nicholas Sparks” e assim por diante. Não tiro os méritos deles, pelo contrário, mas aí o que se fala (escreve) entra em contradição, afinal qual é o apoio dado, deixando de comprar um livro nacional?
Eu tive oportunidade de ler vários livros de autores nacionais, e digo que tem muita coisa boa por ai, inclusive o do Márcio Scheibler, que é um livro policial de primeira linha. Prestigiem, que tenho certeza absoluta que não irão se arrepender.